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sexta-feira, 15 de junho de 2012



Pronunciamento do dia 21 de junho de 2009  por ocasião de “180 anos imigração alemã no estado de São Paulo” 4ª Edição da Colônia Fest (Friedrich Huettenberger)

Minhas senhoras e meus senhores, prezados convidados,

Como parente distante de alguns colonos de Santo Amaro eu fico feliz em vir do sudoeste da Alemanha para cá para comemorar com os senhores os 180 anos de imigração alemã em São Paulo, quase como representante daqueles parentes, que não imigraram em 1827. Eu peço que relevem os meus erros de português, mas pratico muito pouco esta língua, - estou ainda aprendendo - e ela é pouco usada na Alemanha. Para os imigrantes alemães de 1828 ela era totalmente desconhecida. Mas eles foram muito corajosos e abertos para um futuro incerto, estavam dispostos a acreditar nas promessas do imperador brasileiro e tentar um novo começo em uma terra estranha.

Mas porque quiseram experimentar um novo começo?
Antes de responder a esta questão, gostaria de explicar como foi possível descobrir a origem de um grande grupo de imigrantes de Santo Amaro, através de um trabalho conjunto entre brasileiros e alemães.



Durante anos meu interesse pessoal estava focado na genealogia da família Gilcher, família à qual pertencia a minha avó. Nesta família muitos haviam emigrado, principalmente para os Estados Unidos, mas também dois para o Brasil. No entanto ninguém sabia do seu paradeiro. Passadas algumas gerações foram simplesmente esquecidos.

Entre os documentos de um arquivo encontrei os nomes destes Gilcher, em uma longa lista de emigrantes do Palatinado, que clandestinamente haviam deixado sua terra natal em 7 de novembro de 1827. Clandestinamente significa contra a vontade do rei, sem burocracia, sem permissão do governo real da Baviera, sem taxas e impostos de imigração, uma imigração na calada da noite. (Todavia tinha que ser bem planejada, os bens que não podiam ser levados, tinham que ser vendidos, era necessário providenciar o transporte, bem como mantimentos para a longa viagem.)

Na noite de 7 de novembro de 1827 cerca de 200 pessoas deixaram seus lares nos vilarejos entre as cidades de Kusel e Kaiserslautern e partiram para Amsterdã, de onde embarcaram no veleiro rumo ao Brasil. No dia seguinte os prefeitos destas cidades receberam ordens do governo real da Baviera para fazerem um levantamento dos súditos desaparecidos, com quais membros da família, a idade dos mesmos e com qual patrimônio. Estes levantamentos se encontram ainda hoje no Arquivo de Kusel


Há cinco anos Roberto e Carlos Guilger, ao pesquisarem a origem de seus ancestrais, encontraram na internet a minha página sobre os Gilcher. Questionaram se haveria alguma ligação entre as famílias e me encaminharam uma lista de nomes de imigrantes aqui de Colônia. Quando eu vi esta lista – ela fora extraída do livro do grande historiador de Santo Amaro Edmundo Zenha – fiquei estarrecido: eram em sua maioria nomes dos Imigrantes clandestinos da região do Palatinado. Este fato, de que uma parte da população de Santo Amaro é originária da região do Palatinado, era desconhecido até então no Brasil e na Alemanha. Há 80 anos Alfred Nohel acreditava que Pedro Guilger fosse de Baden em função de seu dialeto, mas para quem conhece um pouco, é possível perceber na transcrição da entrevista, traços do dialeto de Essweiler no Palatinado.

Eu sou muito grato à ajuda que recebi da senhora Ursula Dormien do jornal alemão Brasil-Post, ao apoio do Instituto Martius-Staden, à senhora Hildegard Werle Fauser, ao senhor Eloy Câmara Ventura e a Roberto Guilger, que me deu os textos de Edmundo Zenha. Em Não ajudouum trabalho conjunto com arquivos holandeses e ingleses foi possível documentar a Imigração destes alemães da região do Palatinado para São Paulo. Neste caso aplicam-se as palavras da bíblia: “Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros”, pois aqueles que, somente dois meses após terem deixado sua pátria, foram os primeiros a embarcarem em Amsterdã, em 6 de janeiro, no veleiro “Maria Helena”, naufragaram. Os sobreviventes passaram um ano na Inglaterra, antes que pudessem seguir viagem, chegando somente em 1829 ao Rio de Janeiro. Já aqueles que foram os últimos a embarcarem em Amsterdã no veleiro “Alexander” em abril de 1828, alcançaram o Rio de Janeiro em junho de 1828 e foram os primeiros a chegarem a São Paulo. O grupo dos náufragos, ao chegar ao Rio de Janeiro, foi encaminhado para o Rio Grande dos Sul, somente algumas poucas famílias puderam se juntar aos seus parentes em São Paulo. Com isso, os primeiros a viajarem foram os últimos a chegarem a São Paulo na primavera de 1829.

Cabe esclarecer ainda o porquê de tantas famílias terem Imigrado clandestinamente durante a noite para o Brasil. Uma decisão de cunho existencial como esta, de Imigrar para um país desconhecido e distante, tem sempre diversas causas. Como desconhecemos os motivos individuais de cada Imigrante, podemos nos basear somente nas circunstâncias da época como causas.



Um dos principais motivos para a Imigração foi, sem dúvida, a propaganda feita da jovem nação brasileira, a promessa de terras e ajuda estatal nos primeiros tempos.

A situação político-econômica da região do Palatinado na época era pouco favorável

De acordo com as leis de herança na região do Palatinado, todos os irmãos de uma mesma família herdavam em partes iguais. Com isso as propriedades dos camponeses se tornavam cada vez menores, até que a produção mal desse para se auto-sustentarem. Isto também era motivo para a emigração.

Em 1816 a Alemanha sofreu uma catástrofe climática: o “ano sem verão”, seguido por um inverno da fome, e finalmente em 1820 houve uma praga de camundongos. Nossos imigrantes de Santo Amaro tiveram que passar por todo este sofrimento.



Desde 1824 encontravam-se na região sudoeste da Alemanha a serviço do jovem Imperador brasileiro recrutadores de emigrantes. Principalmente na região do “Hunsrück” ao norte do Palatinado, eram bem sucedidos. De lá Imigraram centenas de pobres camponeses para o Rio Grande do Sul. As notícias positivas que esporadicamente vinham de lá, alcançavam também a região do Palatinado. Lembro aqui do livro de Hildegard Werle-Fauser: Quando a própria situação era ruim, mas a promessa de colonização boa, diversos pais de família depositavam suas esperanças na emigração para o Brasil.

O ato de Imigrar era comum na região do Palatinado

Pesquisar sobre a Imigração, documentá-la e disponibilizar as informações para os descendentes, bem como manter contato com os descendentes no exterior, faz parte do trabalho do “Institut für Pfälzische Geschichte und Volkskunde“ (Instituto de História e Folclore do Palatinado) em Kaiserslautern, ao qual eu também disponibilizei o meu trabalho. Lá se encontram cerca de 6000 fichas com nomes de Imigrantes. Um bom endereço quando se quer pesquisar sobre seus ascendentes, cuja origem acredita-se ser a região do Palatinado.

Da comunidade de Essweiler diversas famílias Imigraram para Santo Amaro, entre elas o ancestral de todos os Guilger em São Paulo, João Gilcher Sapateiro, o avô do último prefeito de Santo Amaro. O atual prefeito de Essweiler é também um Gilcher: Peter Gilcher que já recebeu a visita de diversos membros da família Guilger de São Paulo. Ele lamenta não poder estar presente pessoalmente a estes festejos e pediu-me que transmitisse a todos os presentes seus mais sinceros cumprimentos.
A comunidade de Essweiler com os cumprimentos oferece a comunidade dos descendentes este brasão, que representa as armas de Essweiler (o castelo antigo, o ribeiro do vale, e a pedreira que dava e ainda da trabalho aos habitantes). Pedimos que este brasão esteja sempre próximo destes descendentes.



quarta-feira, 13 de junho de 2012


Acontece de 29 a 30 de junho e 01 de julho de 2012 a Colônia Fest, em comemoração aos 183 anos do bairro Colônia Paulista (Zona Sul - SP). Em sua 7ª edição a tradicional festa visa resgatar a cultura e costumes dos colonos alemães. O evento conta com comidas e danças típicas desenvolvidos por moradores da região, além de apresentações folclóricas e exposições, buscando oferecer interação entre as demais culturas em destaque na região como japonesa, indígena e negra.

A organização fica por conta de instituições locais como, Associação Cívica Colônia Alemã - ACCA,  Associação Cemitério dos Protestantes - ACP, Associação Comunitária Habitacional Vargem Grande - ACHAVE, Associação Cristã de Ensino - ACE, além de comerciantes e moradores do bairro. A festa conta com o apoio da Subprefeitura de Parelheiros - SPPA e São Paulo Turismo - SPTURIS.

A Colônia Fest já virou tradição. A data consta no calendário oficial de eventos da cidade de São Paulo (Dia 29 de Junho - Dia da Colônia Paulista - Lei vereador Antônio Goulart) em seu sétimo ano, busca apresentar e reforçar cada vez mais a riqueza cultural existente no bairro. O evento espera receber milhares de visitantes.

Bairro de Colônia Paulista

Colonizado em 1829, o bairro traz diversos pontos importantes e relevantes do local e da cultura alemã que ainda são desconhecidos pela população. Dentre eles destacam-se o Cemitério de Colônia Paulista, primeiro cemitério particular de São Paulo - que abriga tradicionais famílias alemãs da época, a escola Ernestino Lopes da Silva - que possui uma pedra, como marco zero de Colônia Paulista e a Cratera de Vargem Grande - bairro que surgiu a partir de um meteorito que caiu há 40 milhões de anos. A ocupação da região começou na década de 80 e, hoje, mais de 40 mil pessoas vivem ali.