Pronunciamento do dia 21 de junho de 2009 por ocasião de “180 anos imigração alemã no
estado de São Paulo” 4ª Edição da Colônia Fest (Friedrich Huettenberger)
Minhas senhoras e meus senhores, prezados convidados,
Como parente distante de alguns colonos de Santo Amaro eu fico feliz em vir do
sudoeste da Alemanha para cá para comemorar com os senhores os 180 anos de
imigração alemã em São Paulo, quase como representante daqueles parentes, que
não imigraram em 1827. Eu peço que relevem os meus erros de português, mas
pratico muito pouco esta língua, - estou ainda aprendendo - e ela é pouco usada
na Alemanha. Para os imigrantes alemães de 1828 ela era totalmente
desconhecida. Mas eles foram muito corajosos e abertos para um futuro incerto,
estavam dispostos a acreditar nas promessas do imperador brasileiro e tentar um
novo começo em uma terra estranha.
Mas porque quiseram experimentar um novo começo?
Antes de responder a esta questão, gostaria de explicar como foi possível
descobrir a origem de um grande grupo de imigrantes de Santo Amaro, através de
um trabalho conjunto entre brasileiros e alemães.
Durante anos meu interesse pessoal estava focado na genealogia da
família Gilcher, família à qual pertencia a minha avó. Nesta família muitos
haviam emigrado, principalmente para os Estados Unidos, mas também dois para o
Brasil. No entanto ninguém sabia do seu paradeiro. Passadas algumas gerações
foram simplesmente esquecidos.
Entre os documentos de um arquivo encontrei os nomes destes Gilcher, em uma
longa lista de emigrantes do Palatinado, que clandestinamente haviam deixado
sua terra natal em 7 de novembro de 1827. Clandestinamente significa contra a
vontade do rei, sem burocracia, sem permissão do governo real da Baviera, sem
taxas e impostos de imigração, uma imigração na calada da noite. (Todavia tinha
que ser bem planejada, os bens que não podiam ser levados, tinham que ser
vendidos, era necessário providenciar o transporte, bem como mantimentos para a
longa viagem.)
Na noite de 7 de novembro de 1827 cerca de 200 pessoas deixaram seus lares nos
vilarejos entre as cidades de Kusel e Kaiserslautern e partiram para Amsterdã,
de onde embarcaram no veleiro rumo ao Brasil. No dia seguinte os prefeitos
destas cidades receberam ordens do governo real da Baviera para fazerem um
levantamento dos súditos desaparecidos, com quais membros da família, a idade
dos mesmos e com qual patrimônio. Estes levantamentos se encontram ainda hoje
no Arquivo de Kusel
Há cinco anos Roberto e Carlos Guilger, ao pesquisarem a origem de seus
ancestrais, encontraram na internet a minha página sobre os Gilcher.
Questionaram se haveria alguma ligação entre as famílias e me encaminharam uma
lista de nomes de imigrantes aqui de Colônia. Quando eu vi esta lista – ela
fora extraída do livro do grande historiador de Santo Amaro Edmundo Zenha –
fiquei estarrecido: eram em sua maioria nomes dos Imigrantes clandestinos da
região do Palatinado. Este fato, de que uma parte da população de Santo Amaro é
originária da região do Palatinado, era desconhecido até então no Brasil e na
Alemanha. Há 80 anos Alfred Nohel acreditava que Pedro Guilger fosse de Baden
em função de seu dialeto, mas para quem conhece um pouco, é possível perceber
na transcrição da entrevista, traços do dialeto de Essweiler no Palatinado.
Eu sou muito grato à ajuda que recebi da senhora Ursula Dormien do jornal
alemão Brasil-Post, ao apoio do Instituto Martius-Staden, à senhora Hildegard
Werle Fauser, ao senhor Eloy Câmara Ventura e a Roberto Guilger, que me deu os
textos de Edmundo Zenha. Em Não ajudouum
trabalho conjunto com arquivos holandeses e ingleses foi possível documentar a
Imigração destes alemães da região do Palatinado para São Paulo. Neste caso
aplicam-se as palavras da bíblia: “Os primeiros serão os últimos e os últimos
serão os primeiros”, pois aqueles que, somente dois meses após terem deixado
sua pátria, foram os primeiros a embarcarem em Amsterdã, em 6 de janeiro, no
veleiro “Maria Helena”, naufragaram. Os sobreviventes passaram um ano na
Inglaterra, antes que pudessem seguir viagem, chegando somente em 1829 ao Rio
de Janeiro. Já aqueles que foram os últimos a embarcarem em Amsterdã no veleiro
“Alexander” em abril de 1828, alcançaram o Rio de Janeiro em junho de 1828 e
foram os primeiros a chegarem a São Paulo. O grupo dos náufragos, ao chegar ao
Rio de Janeiro, foi encaminhado para o Rio Grande dos Sul, somente algumas
poucas famílias puderam se juntar aos seus parentes em São Paulo. Com isso, os
primeiros a viajarem foram os últimos a chegarem a São Paulo na primavera de
1829.
Cabe esclarecer ainda o porquê de tantas famílias terem Imigrado clandestinamente
durante a noite para o Brasil. Uma decisão de cunho existencial como esta, de Imigrar
para um país desconhecido e distante, tem sempre diversas causas. Como
desconhecemos os motivos individuais de cada Imigrante, podemos nos basear
somente nas circunstâncias da época como causas.
Um dos principais motivos para a Imigração foi, sem dúvida, a propaganda
feita da jovem nação brasileira, a promessa de terras e ajuda estatal nos
primeiros tempos.
A situação político-econômica da região do Palatinado na época era pouco
favorável
De acordo com as leis de herança na região do Palatinado, todos os irmãos de
uma mesma família herdavam em partes iguais. Com isso as propriedades dos
camponeses se tornavam cada vez menores, até que a produção mal desse para se
auto-sustentarem. Isto também era motivo para a emigração.
Em 1816 a Alemanha sofreu uma catástrofe climática: o “ano sem verão”, seguido
por um inverno da fome, e finalmente em 1820 houve uma praga de camundongos.
Nossos imigrantes de Santo Amaro tiveram que passar por todo este sofrimento.
Desde 1824 encontravam-se na região sudoeste da Alemanha a serviço do
jovem Imperador brasileiro recrutadores de emigrantes. Principalmente na região
do “Hunsrück” ao norte do Palatinado, eram bem sucedidos. De lá Imigraram
centenas de pobres camponeses para o Rio Grande do Sul. As notícias positivas
que esporadicamente vinham de lá, alcançavam também a região do Palatinado.
Lembro aqui do livro de Hildegard Werle-Fauser: Quando a própria situação era
ruim, mas a promessa de colonização boa, diversos pais de família depositavam
suas esperanças na emigração para o Brasil.
O ato de Imigrar era comum na região do Palatinado
Pesquisar sobre a Imigração, documentá-la e disponibilizar as informações para
os descendentes, bem como manter contato com os descendentes no exterior, faz
parte do trabalho do “Institut für Pfälzische Geschichte und Volkskunde“
(Instituto de História e Folclore do Palatinado) em Kaiserslautern, ao qual eu
também disponibilizei o meu trabalho. Lá se encontram cerca de 6000 fichas com
nomes de Imigrantes. Um bom endereço quando se quer pesquisar sobre seus
ascendentes, cuja origem acredita-se ser a região do Palatinado.
Da comunidade de Essweiler diversas famílias Imigraram para Santo Amaro,
entre elas o ancestral de todos os Guilger em São Paulo, João Gilcher
Sapateiro, o avô do último prefeito de Santo Amaro. O atual prefeito de Essweiler
é também um Gilcher: Peter Gilcher que já recebeu a visita de diversos membros
da família Guilger de São Paulo. Ele lamenta não poder estar presente
pessoalmente a estes festejos e pediu-me que transmitisse a todos os presentes
seus mais sinceros cumprimentos.
A comunidade de Essweiler com os cumprimentos oferece a comunidade dos
descendentes este brasão, que representa as armas de Essweiler (o castelo
antigo, o ribeiro do vale, e a pedreira que dava e ainda da trabalho aos
habitantes). Pedimos que este brasão esteja sempre próximo destes descendentes.